“O grande adversário de Bolsonaro nas redes sociais não é Aécio nem
Lula. É Doria”, diz Manoel Fernandes, diretor da Bites.
Um fantasma ronda o Palácio do
Planalto. Esguio e de sorriso largo entremeado pelo cenho franzido no qual
desponta um olhar desconfiado, Jair Bolsonaro é um homem de passos largos e –
completam seus adversários – “ideias estreitas”. Está no sétimo mandato parlamentar
e, pelo ritmo de novos adeptos que conquista no Facebook – de 3 mil a 7 mil por
dia -, cada vez mais se aproxima da campanha presidencial de 2018 como o
principal candidato da extrema direita.
As mídias sociais são hoje o maior
motor de seu fazer político. Para seus adversários – que Bolsonaro denomina
genericamente como “a esquerda”, na qual inclui PT, PCdoB, PSOL e até a Rede –
em 2018 o capitão reformado do Exército “representará para a extrema direita
reacionária e saudosista da ditadura militar a oportunidade de sair do armário”
(palavras do deputado Chico Alencar, do PSOL-RJ).
“Com sua forma bruta e tosca, ele
agrada aos desencantados com a política”, afirma Alencar. Com 11% nas intenções
de voto para presidente da República segundo pesquisa CNT/MDA, de fevereiro, o
deputado estava empatado em segundo lugar.
As polêmicas nas redes sociais, onde
combate “o politicamente correto”, fizeram o deputado passar a falar para fora
de seus clientes tradicionais do meio militar. Bolsonaro deixou de ser apenas
um capitão do Exército para se tornar também o arquétipo do tio conservador que
toda família do interior do País abriga. Quer ordem na escola, ordem na
família, quer ordem, enfim. “Há excesso de direitos no Brasil”, diz. Virou
piada: Bolsonaro bate continência para Moro e reação do juiz viraliza
Ele é, para o professor de Ciência
Política José Álvaro Moisés, da USP, expressão de um fenômeno que tem um
componente de crítica às instituições e aos políticos e de rejeição a temas
identitários e de direitos humanos. “É uma crise das elites em um certo
sentido, que perderam a capacidade de mobilizar a sociedade.” De 12% a 13% dos
eleitores pensariam como o deputado. “É o que mostram as pesquisas.”
Bolsonaro tem 1,85 metro de altura e
é um homem sorridente. Em uma hora de caminhada pelo Congresso atendeu a 61
pedidos de selfies e fez 12 gravações de mensagens distribuídas pelo WhatsApp
ou Facebook. Um dos que posaram ao lado do deputado foi o técnico do time de
basquete da Francana, Hélio Rubens Garcia Filho, o Helinho. Horas mais tarde,
longe da Câmara, Helinho diria que tirou a foto só por curiosidade. “Quem mais
me impressiona hoje na política é o Doria (João Doria, prefeito de São Paulo).”
Seguidores
Recebido em aeroportos do País por
centenas de pessoas aos gritos de “mito”, Bolsonaro leva nas viagens assessores
que cuidam das redes sociais. De acordo com o indicador de alcance social da
consultoria Bites, que soma os fãs e seguidores do Facebook, Twitter,
Instagram, YouTube e Google+, o deputado saltou de 44 mil seguidores, em março
de 2015, para 5,04 milhões até sexta-feira, crescimento de 11.344%. Entre 1.º
de fevereiro e 20 de março, seus posts no Facebook geraram 1.038.672 de
compartilhamentos, o que mostra como ele distribui suas ideias.
E nenhuma ideia lhe é mais cara do
que os ataques à distribuição nas escolas do que ele chama de “kit gay”, o
material anti-homofobia preparado pela ONG Pathfinder para o Ministério da
Educação na gestão de Fernando Haddad (PT). O post Livros do PT alcançou 38,4
milhões de pessoas e o vídeo que ele trazia foi assistido por 8,2 milhões.
“Para o PT, brevemente a pedofilia deixará de ser crime”, diz Bolsonaro. “O kit
gay foi uma catapulta na minha carreira política”, reconhece.
A gestão de Haddad informou que “o
chamado kit gay nada mais era do que material técnico para formação de
professores”. Haddad ocupa um espaço especial no gabinete do deputado em
Brasília. Bolsonaro pendurou na porta a foto do petista no aperto de mão de
Lula com deputado federal Paulo Maluf (PP), em 2012. Sobre Bolsonaro, Haddad conclui:
“O Brasil está em busca de um estadista, e não de um palhaço”.
Brigas
É o deputado quem comenta os posts em
seu Facebook. Ali, ele agradece o apoio e até briga com os seguidores. Em 2 de
março, um deles o questionou sobre o pacote anticorrupção. Resposta de
Bolsonaro: “Você é a prova viva dessa matéria. Parabéns, só falta o DIPROMA”.
“Ele é fake ou é um mortadela contratado que tem cérebro de ovo cozido”,
explica Bolsonaro. Outro dia, conta o deputado, uma pessoa entrou em seu perfil
e escreveu: “Deputado, esse seu projeto é uma bosta”. “Eu falei: ‘Muito
obrigado, tem a sua cara’.”
No carnaval, compartilhou um vídeo do
humorista Rudy Landucci, que criou o personagem Beiçonaro. Na paródia de Mamãe
eu Quero, Beiçonaro canta: “Mamãe eu quero executar/os comunista/os comunistas/
pro Brasil melhorar”. “Um dia ele (Bolsonaro) foi me procurar e me ligou como
se fosse um trote. Ele entrou na brincadeira”, conta Rudy.
“O grande adversário de Bolsonaro nas redes
sociais não é Aécio nem Lula. É Doria”, diz Manoel Fernandes, diretor da Bites.
De um total de 47 milhões de interações dos últimos 300 posts das fanpages de
Doria, Bolsonaro, Lula e Aécio, Doria teve 23,3 milhões de interações, seguido
por Bolsonaro (14,7 milhões), Lula (8,1 milhões) e Aécio (985 mil).
Bolsonaro faz planos. “Ele pensa no
País acima de tudo”, diz o amigo coronel Ney Müller. Se presidente, o deputado
queria ter como conselheiro Delfim Netto e o general Augusto Heleno em seu
ministério. Como vice na chapa em 2018, pensa no ex-governador do Piauí Mão
Santa.
Contrário à independência do Banco
Central, ao casamento gay, às cotas raciais e ao Estatuto do Desarmamento, o
deputado citou sete vezes o presidente americano Donald Trump em quatro horas
de entrevista ao falar de como lidar com a questão ambiental, a exploração de
minérios em terras indígenas e perguntas embaraçosas da imprensa. “Daria uma de
Trump: ‘Fake news, passa para outro’.” E alertou: “Vocês (jornalistas) vão
bater tanto em mim que vão fazer a minha campanha.”
As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo



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