O dia era 28 de julho de 1823 e entrou para a história como a capitulação final do Maranhão à independência do Brasil da coroa portuguesa, bradada quase um ano antes.
Acerca do episódio, obras raras e de grande valor que podem auxiliar os interessados em conhecer mais acerca do contexto sócio-político da época são as de Luiz Antonio Vieira da Silva (“História da Província do Maranhão”, de 1862), de Bernardo Pereira de Berredo (“Anais Histórico do Estado do Maranhão”, de 1849) e ainda a obra de Cândido Mendes (“Memórias do Extinto Estado do Maranhão”, de 1874).
Mas neste artigo quero focar personagem pouco conhecido desse recorte histórico de nosso estado. Trata-se Lord Thomas John Cochrane, ou simplesmente Lord Cochrane, comandante de origem escocesa, que liderou a esquadra que aportou em águas maranhenses, liderada pelo navio Pedro Primeiro e obrigou a se render ao Império o último Estado resistente. Sua vitória foi comemorada com um suntuoso baile no Solar Cesário Veras, que fica localizado na rua do Egito.
Cochrane foi recrutado por José Bonifácio que, como todos sabem, era braço direito de Dom Pedro I e que viria a ser importante ministro. Ele viu em Cochrane um guerreiro capaz de auxiliar o recém-estabelecido império brasileiro a enfrentar a dura resistência portuguesa. No currículo, Cochrane tinha como façanha a bem sucedida operação na Guerra do Pacífico, que redundou na independência do Chile da Espanha. Quando foi acionado por José Bonifácio, Cochrane ocupava o posto de Primeiro Almirante da Esquadra chilena. A intermediação contou ainda com o papel decisivo de Antonio Manuel Corrêa da Câmara, que ocupava o posto de Cônsul do Brasil, na Argentina.
Cochrane assumiu o posto de Primeiro Almirante do Brasil, em março de 1823 e, logo em seguida, partiu para a Bahia com quatro navios de guerra para travar batalha com a esquadra portuguesa, que envidava esforços de manter subjugado aquele estado. Depois de uma bem sucedida série de operações no cenário baiano, veio para o Maranhão onde, num lance surpreendente, conseguiu malograr as forças inimigas e conseguir seu intento. Os detalhes de sua estratégia não os conto aqui, dado à exiguidade do espaço. Daqui ele seguiu para o Pará e ainda foi personagem importante em outra guerra, a revolução que em Pernambuco ficou conhecida como a Confederação do Equador.
A história de Lord Cochrane é cheia de episódios fascinantes. Consta ter ele ingressado na Armada Britânica antes dos 18 anos e ainda ter sido chamado pelo próprio Napoleão Bonaparte de “Lobo do Mar”. Chegou a ser integrante do parlamento inglês, de onde saiu em 1814, após uma série de suspeitas com atividades escusas.
Natalino Salgado Filho, MD,.PhD
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* Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA


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