[ARTIGO] NATALINO SALGADO - UMA COMUNIDADE DE PAZ

O tema deste ano da Campanha da Fraternidade – Fraternidade e superação da violência – não poderia ser mais apropriado e oportuno. A tríade, emprego, segurança e corrupção é o tema que as pesquisas revelam como aquele que mais preocupa os brasileiros. 

O lema da Campanha é uma fala de Jesus no Evangelho de S. Mateus: "Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos.” (Mt. 23.8) A ênfase está na afirmação “todos vocês são irmãos”, o que sugere um tipo de igualdade, um alerta para que ninguém se sinta superior ao outro, menos ainda por meio da violência. 

Nos últimos cinco ou seis anos estas temáticas: segurança, emprego e corrupção têm se revezado num triste pódio que escancara uma falência completa do Estado e numa situação de terrível adoecimento da sociedade, cujo principal sintoma é o medo. Este sentimento parece parte de nossos comportamentos mais básicos hoje em dia. Temos medo do outro, de certos lugares, de certas horas. Tememos pelos nossos filhos, marido, esposa, amigos. 

A sobrecarga é imensa e cobra seu preço em estados quase permanentes de estresse e doenças a ele associadas. 

A superação ou enfrentamento da violência com um agir fraterno pede mudança de paradigma em nosso comportamento que, devido a tanta insegurança, tem produzido pessoas assustadiças, defensivas, amedrontadas e explica a razão de um aumento considerável da migração de brasileiros com um pouco mais de recursos para outros países. 

A violência gera um estado de desamparo e impotência generalizado. Faz nascer um tipo de descrença no próprio país e gera um tipo patológico de dessensibilização com outras formas de violência cotidianas. Perigosamente nos arrasta para o pantanoso terreno da justiça com as próprias mãos e mesmo que não a façamos, aprovaremos quem o faz. É um retrocesso ao estado de barbárie de todos contra todos. 

As questões envolvidas são múltiplas e complexas e explicam, inclusive, o impacto negativo no crescimento econômico, pois aumenta os custos dos empreendedores, afasta investimentos e impacta a própria imagem internacional do Brasil. 

A violência, contudo, pode ser invisível ou sutil. O trânsito é o espaço ideal dessa catarse e não me refiro apenas àqueles que dirigem embriagados ou praticam rachas, mas em especial àqueles que usam o espaço comum como se fosse unicamente seu. Que desrespeitam regras mínimas de convivência e andam arrogantes e agressivos como se existissem sozinhos. 

As palavras que dizemos uns aos outros não só no momento de raiva, mas quando depreciamos, são a arma com que diminuímos ou ignoramos o próximo. A violência também acontece com a omissão, talvez como reflexo de sua outra forma furiosa e armada. 

A violência é múltipla em formas e variações e está no tecido da sociedade brasileira entranhada de tal forma, que pede urgente extirpação, sob pena de nos tornarmos uma comunidade em pleno estado de embrutecimento. Mas mantenhamos a esperança. Sejamos cada um de nós, instrumentos da paz. A recompensa é incomensurável. Como está escrito no Evangelho de São Mateus, “bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. 

Nas exatas palavras do Papa Francisco, em mensagem enviada aos fiéis, no Brasil, “Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade”. 

Ao falar acerca do exercício diário da paz, o Santo Padre encarna as palavras do Apóstolo Paulo, em epístola aos efésios. Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, foi a advertência paulina. Roguemos a Deus por essa virtude.

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